terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Querido Papai Noel

Querido Papai Noel, meu nome é Lucas e tenho 10 anos. Talvez o senhor não se lembre de mim, já que da última vez que veio aqui eu tinha nove anos e ainda era uma criança. Como hoje já sou quase um adolescente acho que podemos ter uma conversa franca de homem para homem.

Então, sem querer ser mal educado gostaria de pedir licença pra te chamar de seu Nicolau. Vi no Google que esse é o seu nome de verdade e que ficou conhecido no mundo inteiro por ser um homem muito bom que ajudava os pobres e as crianças. Respeito muito tudo que você fez, mas não acho certo te chamar de papai. Meu pai se chama Silvio, ele trabalha na fábrica de segunda a sexta e em finais de semana faz uns bicos de pedreiro ou de garçom pra dar uma vida melhor pra mim e pros meus irmãos. Mesmo trabalhando tanto ele arruma tempo pra brincar com a gente e até pra brigar quando não nos esforçamos na escola. Tenho o melhor pai do mundo, então não é justo chamar de papai um cara que vem uma vez por ano com um pacote de presente debaixo do braço.

É por causa do meu pai e de todos os outros que estou te escrevendo esta carta. Como o assunto é sério eu preferia falar pessoalmente, mas é bem difícil te encontrar, tá cheio de falsificação sua por aí. Eu vi na internet que como o senhor era um bispo usava uma batina marrom, esse velhinho de roupa vermelha e barba branca ficou conhecido porque foi usado pela Coca-Cola em uma propaganda em 1931. Até a risada deles é falsa, duvido que o senhor faça “ho ho ho”, ninguém ri desse jeito. Podia pelo menos criar um email, aí ficaria mais fácil pra fazer contato. Correio nessa época é um horror, eles estão cheios de compras feitas pela internet pra entregar.

Não quero que fique chateado comigo, mas estou escrevendo para te pedir que não venha esse ano. Isso mesmo, não quero que me traga nenhum presente neste natal. Já não sou mais criança e entendi como a coisa funciona de verdade, sei que quem compra o presente são meus pais e que o senhor só entrega na noite de natal. Demorei um pouco pra entender porque eles mesmos não entregavam, mas depois lembrei que eles não têm como saber se a gente se comportou de verdade quando eles não estavam olhando e o senhor é mágico e pode ver tudo o que as crianças fizeram enquanto os adultos não estavam por perto.

Descobri isso quando acordei no meio da noite e encontrei meu pai e minha mãe conversando com uma pilha de papéis na mesa. Eles faziam contas pra saber de onde iriam tirar o dinheiro pra comprar os presentes pra nós. Minha mãe dizia que podiam comprar alguma coisa mais simples, mas meu pai insistia que na televisão só se falava do tal tablet e que a gente teria mais chances de ser alguém na vida se tivesse um. Então minha mãe decidiu que não precisavam arrumar a máquina de lavar logo, ela até lavava bem as roupas leves e era só lavar as pesadas no tanque. Iriam fazer prestações até a metade do ano e depois viam como arrumar a lavadora. Minha mãe até ia tentar conseguir um serviço num atelier pra fazer em casa de noite.

Então seu Nicolau, com todo o respeito que o senhor merece, entre sua visita uma vez no ano e a minha mãe em todas as outras noites, eu prefiro ela. O tal do tablet parece ser legal, mas o que eu preciso pra ser um homem de verdade meus pais já me deram, o exemplo deles. Tira umas férias, você entrega presentes há quase dois mil anos, deve estar precisando descansar. Além disso, exploração de animais agora é crime e tanto pacote deve ser bem pesado pras pobres renas. E se não for pedir demais, quando os outros pais te pedirem pra entregar os presentes explica pra eles que criança não precisa só de presente, criança precisa de amor.

Se quiser mesmo passar aqui em casa pode vir, mas sem presente. Vem provar a comida da minha mãe, é ótima. Este natal aqui em casa vai ser dedicado a lembrar do nascimento de Jesus e do que ele nos ensinou, a amar as pessoas pelo que elas são e não pelo que têm ou pelo que podem nos oferecer. Feliz natal Nicolau e um bom descanso.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Proclamação do feriadão



Hoje o assunto é o feriado do dia 15 de novembro. Dia da proclamação da república. Mas nem sempre foi feriado nesse dia, antes de 1889 não tinha feriado no dia 15. Claro, se não tinha república não tinha feriado da proclamação.

Eram tempos difíceis pro Dom Pedro II, o Brasil passava por uma crise financeira grave depois da guerra do Paraguai. O imperador foi ao país vizinho com a tropa toda e voltou de lá cheio de muamba e com o limite do cartão de crédito estourado. Ele bem que tentou acalmar os fazendeiros daqui fazendo outra festança, mas como serviu champanha falsificado que veio escondido no porta-malas da carruagem a festa foi um fiasco.

Os fazendeiros estavam indignados porque o imperador dizia que não tinha dinheiro pra pagar indenizações pelo fim da escravidão, mas pra comprar celular de quatro chips no Paraguai ele tinha. A abolição era outro calo no pé dele. Como pai atencioso ele até tentou explicar pra princesa Isabel que aqui o salário mínimo seria tão ruim que era mais vantagem ser escravo, mas ela não queria conversa queria acabar com a escravidão pro Lázaro Ramos poder ser galã de novela.

A coisa ficou feia mesmo quando o Marechal Deodoro da Fonseca foi passar o feriadão de finados na praia e dormiu no sol deitado de lado. O marechal acabou com uma perna bronzeada e outra branca, mas como a história é cheia de confusões ele acabou conhecido como Deodoro da Fonseca de uma perna grossa e outra seca. Enfim, ele queria outro feriadão pra bronzear a perna branca, como o Imperador negou mais essa folga os militares se rebelaram. Quebraram lojas, queimaram ônibus e furaram o mascote da copa. Depois disso proclamaram a república e o recém-empossado presidente Deodoro da Fonseca proclamou mais um feriadão.

Não sei se foi bem assim, mas foi desse jeito que me contaram. Pelo menos foi assim que eu entendi.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dia das bruxas



Se tinha uma coisa que Weslei odiava era o tal do dia das bruxas. Todo mundo faceiro se vestindo de assombração sem ter ideia do quanto é dura a morte-vida de um zumbi de verdade em país de terceiro mundo.

Quando soube que a macumbeira da vila havia costurado seu nome na boca de um sapo ele já ficou se imaginando saindo do chão, igualzinho no clipe do Michael Jackson. Mas já na primeira noite que saiu pra comer deu com a cara no chão quando caiu da gaveta da sexta fileira do cemitério. Pra voltar foi outra batalha, alguém roubou a escada de alumínio que tinha lá, provavelmente pra vender pro cara que compra latinhas, tampas de bueiro e fios de cobre roubados.

Além da altura da gaveta ele tinha outro grande problema com o cemitério, ele ficava muito próximo do hospital. Por isso várias vezes ele foi recolhido pela Samu quando andava pela rua por ser confundido com uma vítima de acidente ou por acharem que ele havia sido assaltado. No hospital ele já foi medicado, suturado, operado e uma vez quase que o médico percebeu que ele estava morto.

Mas ser confundido com acidentado não era problema, o pior era ser confundido com mendigo. Várias vezes gangues de playboys haviam lhe ateado fogo. Numa dessas vezes seu amigo Vladimir, que era vampiro, veio em seu socorro e mordeu três deles. O coitado ficou tão drogado com aquele sangue que não conseguiu desviar dos fios de luz e morreu eletrocutado.

Agora, enquanto todos voltavam pra casa e guardavam suas fantasias de Halloween, Weslei escalava a escada de taquaras improvisada e voltava para sua gaveta. Depois de uma noite inteira a procura de cérebros para matar sua fome ele acabara atacando um baile funk lotado. Mais uma vez ele dormiria com fome. 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O fim está próximo



Sabe por que o mundo está desse jeito? As pessoas não sabem mais dar valor ao que realmente é importante na vida. E pensando assim Joarez larga seu martelo e vai-se embora seguido pelos gritos do patrão. Serão, como o homem pode pensar numa coisa dessas num momento como este? Gente rica só pensa em trabalho e dinheiro. Se for trabalho da gente pra fazer dinheiro pra eles melhor ainda.

Nessas horas a gente precisa estar junto da família. Quando a coisa ficar realmente feia o patrão não vai estar ao lado pra segurar sua mão, ou lhe oferecer o ombro para chorar. Ele agradece a Deus por conseguir reunir todo mundo nessa noite, e olha que isso não é fácil. A mulher pode só requentar alguma coisa do almoço e dar um descanso pro fogão, hoje ela é a pessoa que ele mais precisa ao seu lado. Juntos vão lembrar momentos tristes e alegres e dar risada com os filhos mais uma vez. Os filhos vão estar todos lá, os mais novos podem só dessa vez faltar a aula, e a mais velha conseguiu convencer o marido a passar essa noite com a família.

Tudo um dia acaba, e tem que ser assim mesmo. O que move o mundo é a renovação, a gente aprende com o que deu errado e recorda com saudades do que deu certo. Um ciclo acaba e outro começa, melhor que o anterior e pior que o seguinte.

Joarez chega em casa e a mulher já está lhe esperando. Com a pipoca pronta e cuia na mão ela o leva até seu lugar reservado no sofá da sala. Lá eles vão torcer juntos para que a Carminha tenha o castigo que merece e que a novela que começa na segunda seja tão boa quanto Avenida Brasil.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

E nesse clima a gente vai levando.



Era mais um dia como qualquer outro na vida de Sebastião. Sempre a mesma coisa, sempre a mesma rotina.

Como sempre, Sebastião acordava antes da mulher e tentava tirá-la da cama “Vâmo mulher, hoje é teu dia de prender os pinguins”, e como sempre ela o convencia a fazer isso no seu lugar só pra poder ficar mais cinco minutos debaixo das cobertas. Ele atravessava a casa arrastando os chinelos e ia alimentar os bichos com os peixes que ficaram presos no quarto das crianças na última enchente.

As crianças eram outro desafio diário na sua vida, principalmente o pequeno. Todo santo dia era preciso revisar a mala da escola. Casaco, galocha, regata, chinelo, protetor solar pro calorão do meio dia... E claro, o pequeno não tinha colocado na mala o guarda-chuva. Quando esse guri vai aprender que pobre não pode sair sem guarda-chuva? Sempre chove de manhã, ao meio dia ou no final da tarde, nas horas que a peãozada tá na rua.

Lembrar-se da chuva o faz ter vontade de afogar o patrão. No dia anterior lhe fez ficar vinte minutos a mais no trabalho em uma reunião em que não se resolveu nada, só serviu pra fazer com que ele perdesse o último barco da defesa civil e tivesse que nadar até em casa.

Como não pode esperar até às 8 horas, quando o sol escaldante já teria derretido a neve da porta, Sebastião pega sua pá e começa a abrir caminho até a rua. Se demorar mais vai pegar o ônibus cheio e não terá lugar pra sentar, e não é nada fácil se equilibrar com uma mala de roupas, um cobertor e uma boia.

Como sempre, Sebastião sai de casa sonhando com o dia em que vai ganhar na mega sena. Aí sim, só vai sair de casa depois das 9 pra aproveitar a praia e voltará na sua própria lancha. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Mas bah!



Tá chegando a semana Farroupilha! Em 20 de setembro comemoramos a guerra dos gaúchos contra as forças do mal para conquistar o direito de ter mais um feriado.

O imperador não queria dar aos estancieiros daqui mais um dia de folga porque isso poderia desestabilizar a economia e ia faltar dinheiro pra ajudar a combater a seca no nordeste. Bento Gonçalves olhou nas fuças dele e disse “Bem capaz que tu vai mandar aqui!”. E nesse dia o Rio Grande se apartou do resto do Brasil.

Depois de 7 anos eles estavam falidos e não encontravam ninguém que soubesse fazer um churrasco decente. Vieram de chapéu na mão pedindo pra gente voltar. Os índios velhos daqui que de bobos não tinham nada foram colocando as suas condições.

A primeira questão era o futebol. Os dois únicos times que jogavam de verdade ficavam aqui, o resto podia ficar com artista de comercial de TV que lança moda de penteado de cabelo e fica dançando tchutchatchá. Jogar bola mesmo só a dupla Grenal.

Outro problema sério era a feiura dos brasileiros em comparação com a beleza das prendas daqui. Pra resolver isso se definiu que Santa Catarina ia ficar aqui do lado, assim conforme a gente vai se embrenhando no Brasil vai se acostumando aos poucos com as feições do povo de lá.

E mais importante, o “bah” tinha que ser mantido como segunda língua oficial. Assim quando não queremos que os brasileiros nos entendam podemos conversar por horas só usando o “bah”.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Xi, e agora?



Faltando algumas horas pra fechar a edição desta semana do jornal e lembrei que me esqueci de escrever minha coluna. Parece bem ruim, mas como sempre tudo o que é bem ruim pode ficar bem pior. Estou completamente sem ideia do que falar.

Não vou dizer que isso nunca aconteceu comigo antes, até porque essa desculpa não convence ninguém. Uma hora ou outra acontece com todo mundo, como quando aquela amiga chega e diz que perdeu dois quilos. Mesmo querendo dizer que ela não perdeu, mas só procurou no lugar errado e que se olhasse bem pra cintura iria encontrar, a gente pensa duas vezes e fica no clássico “Ia mesmo te perguntar se tu tá malhando, tem certeza que foram só dois?”.

Ou quando aquele amigo diz que está desconfiado da mulher? Quando um homem fala isso pra outro é porque já sabe que a vaca foi pro brejo, pra balada, pra gandaia, o que ele quer é que lhe digam que isso é coisa que estão colocando na sua cabeça. Se ela trabalha até tarde toda noite e chega em casa com o cabelo molhado é porque toma banho no emprego pra chegar perfumada pra ele. E aquele colar que apareceu na gaveta e parece caríssimo é só uma bijuteria bem feita. Até os camelôs evoluíram. E afinal, pai é quem cria.

Pensando bem, esses momentos em que ficamos sem saber o que dizer nos salvam a vida. Se todo mundo dissesse o que realmente pensa, amigos seriam ainda mais raros. Amigos vivos seriam raríssimos.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Pobre da Geneci




Coitada da Geneci,era mesmo uma criatura sem sorte. Mas daquela vez ela tinha certeza que ia ser diferente, ele realmente fazia ela se sentir uma pessoa especial.

Eles já se conheciam há alguns anos, mas ele nunca tinha olhado pra ela. Nem mesmo quando esbarravam no corredor da padaria. Uma vez até ela teve a impressão de que ele fingiu não a ver pra se enfiar na sua frente na fila. Ela até que entendia isso, afinal ele era uma pessoa importante, era dono de uma fabriqueta, e ela era só uma diarista.

Mas um dia a história dos dois tomou outro rumo. Tudo começou com um aceno e um sorriso de longe. Geneci até olhou em volta pra ver se tinha alguém atrás dela, mas não! Aquele sorriso era para ela.

No dia seguinte a surpresa foi ainda maior. Voltava de mais um dia de empreguete quando o viu sozinho do outro lado da rua. Ele vinha em sua direção de sorriso aberto e braço estendido, quase sem perceber ela também lhe deu a mão. A conversa dos dois durou um longo tempo, ele parecia realmente interessado em saber como andava a vida dela, como estava a sua família e o que ela e os amigos faziam para se divertir.

Os dois passaram a se ver quase que diariamente. Todos os finais de semana ele a convidava para festas e jantares. Fez promessas de mudar a vida da diarista radicalmente, e ela acreditava nele.

Depois de alguns meses finalmente chegou o grande dia. Geneci entregou a ele seu voto. Ele desapareceu por quatro anos, e quando se aproximava outra eleição novamente ele surgiu na sua porta. Aquele mesmo sorriso aberto e uma sacola econômica na mão.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012



OlimPiadas
                
                       Nas últimas semanas acompanhamos a disputa entre Estados Unidos e China pelas medalhas olímpicas em Londres. Vez que outra eles se distraem e algum atleta representando outro país ganha. Digo representando porque o atleta não precisa necessariamente ser daquele país para participar das olimpíadas. Alguns não conseguem uma colocação em seu país de origem e para não ficar de fora da festa vão buscar a cidadania em outro lugar que não teria um atleta naquela modalidade.
                
                   Todos os dias nós vimos recordes históricos sendo quebrados por pessoas que usam a ciência e a tecnologia para superar os limites do corpo humano. Quando vejo o que eles são capazes de fazer não consigo deixar de pensar: “Grande coisa”. Queria ver se fosse aqui. Tem provas em que gringo nenhum consegue superar o brasileiro.
          
            Queria ver o multicampeão Phelps encarando os cinquenta metros nado de roupa no estacionamento alagado do hipermercado. Ou qualquer chinesinha daquelas fazendo saltos ornamentais sobre poça d’água com a mesma graça da Dona Maria. Com seus setenta anos ela vai à padaria em dia de chuva, pisa em pedra solta na calçada, escapa das tsunamis feitas pelos carros que passam nos buracos da rua e chega em casa sem molhar as pantufas.
               
                      Se a prova for de corrida, aí sim a gente ganha todas. Quero ver ganhar do Jeferson na prova de corrida até a parada pra não perder o ônibus, o cara treina todo dia isso pra poder dormir mais cinco minutos. E tem o Seu Antônio que sai de casa todo dia às quatro da manhã e corre uma maratona pra não ser assaltado pelos viciados do bairro.
              
                     Parabéns brasileiros, cada um de vocês merece uma medalha de ouro a cada dia.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Oba! É segunda!



A sexta é o dia mais esperado por todos nós. Depois de uma semana de trabalho duro podemos ter o merecido descanso.

O sábado é o dia oficial de acordar tarde. Mas se acordar tarde o sol vai estar alto e já vai estar bem quente, vai ser um problema pra cortar a grama. Melhor deixar pra acordar tarde domingo. Se bem que domingo de manhã cedo tem missa. Melhor acordar cedo no final de semana pro corpo não desacostumar com o horário de sempre.

Na verdade o sábado é um dia bem sem graça. Depois de cortar a grama, limpar a sujeira do cachorro, consertar os vazamentos da casa, desentupir a calha e a graxeira a gente não tem ânimo e nem cheiro pra fazer mais nada.

Já o domingo é outra história, é só descanso e diversão. Depois da missa, é claro. Voltando pra casa já encontramos a família reunida e esperando o churrasco. A diversão começa pegando uma cerveja, juntando os tijolos pra churrasqueira, limpando os espetos, espetando a carne e alguns dedos, ficando preto e sapecado de carvão, com cheiro de jornal queimado... Acho que a diversão acabou na cerveja.

Mas depois de servir todo mundo e limpar toda a sujeira deixada pelos parentes que encheram a barriga e fugiram, o resto do dia é de descanso. Uma boa cochilada no sofá e depois assistir o Faustão com dor no pescoço. Olhando agora o domingo também não parece lá grande coisa.

O bom do domingo é que ele acaba depois do Fantástico e logo chega a segunda, aí podemos descansar do descanso do final de semana.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O nosso inverno

 

vira-lata

Chegou o inverno, a estação mais gaúcha do ano. No Brasil o verão que é comemorado, mas aqui como não tem praia e nem carnaval que preste, o que mais valoriza nossas paisagens e nosso jeito de ser é o inverno.

Não existe imagem mais fantástica do que um campo coberto pela geada de manhã bem cedo. Os turistas amam e fotografam cada gota de sereno congelada. Quem mora aqui e precisa encarar o conhecido “frio de renguear cusco” pra ir trabalhar não acha assim tão lindo, mas só de saber que os outros têm inveja já faz valer à pena o sacrifício.

Mas uma boa xícara de chocolate quente aquece o corpo. De quem está numa pousada luxuosa na serra, é claro, a gente se vira mesmo com o café requentado que passou na noite anterior pra poder ficar mais tempo na cama.

Um bom banho quente também resolve. Menos pra gente que tem em casa uma duchinha que só funciona em duas temperaturas, pelar porco ou morrer congelado, mas a gente se esquenta. Às vezes um pingo de água gelada cai do forro de PVC suado e acerta a gente nas costas, congela o corpo todo de novo, mas se a gente foge rápido do banheiro isso quase nunca acontece.

Mas nada melhor do que “fundi” na frente da lareira. Deve ser, aparece em todos os comerciais. Mas pinhão no fogão à lenha também é bom. As pilhas de madeira viram criadores de aranhas e ratos, a casa fica preta de fuligem, mas tem todo o resto do ano pra limpar isso.

Tá, inverno de pobre é uma droga.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Bom gente, há um tempo estava numa conversa animada com o Deivid Poncio, um amigo da faculdade, e ele me falou do projeto de criar um novo jornal na cidade. Pensei comigo, mais um jornal? Pra quê? Quem vai ser louco de escrever pra um jornal que vai disputar mercado com um dos maiores grupos editoriais do estado?

O Deivid já tinha pelo menos um louco em vista, eu. Como ele insistiu muito... nem tanto na verdade... bom, pra falar a verdade mesmo ele só comentou a ideia e eu topei, mas enfim, virei colunista do Jornal Zona Oeste de Novo Hamburgo. No mínimo a gente vai ser uma pedra no sapato daquele outro jornalzão e vamos fazer eles investirem mais na qualidade pra não perderem leitores.

Como o jornal é distribuído só na zona oeste da cidade (impressionante como o nome começa a fazer sentido agora não é?), muitos amigos de outros lugares acabam não podendo ler minhas crônicas. Não que isso seja um grande problema para eles, mas vários deles me pediram para publicar o material em um blog também. Na verdade foram só alguns... Um pra ser sincero... Tá, nem foi um pedido, foi só uma sugestão.

Enfim, criar blog é de graça e todo mundo pode fazer, então esse é o meu. Aqui vou postar as crônicas já publicadas no jornal e mais alguma coisa que dê na veneta de escrever. Espero que gostem, que comentem, que curtam, que critiquem, que praguejem, o negócio é participar pra gente construir alguma coisa.

Um abraço.

Gelson A.Cardoso
Estudante de Publicidade e Propaganda
Dj
Colunista
e agora Blogueiro.

Feliz dia dos namorados



Poucos sabem, mas o dia dos namorados foi criado por um solteirão com um plano maligno de destruir todos os relacionamentos felizes.

Para as mulheres a situação não é tão trágica, para elas comprar é um prazer, diferente dos homens que acham isso um martírio. Além disso, elas escolhem presentes para si mesmas. Sempre dão roupas que querem que eles usem quando estiverem com elas, pouco importa se o namorado odeie estampas florais, se for a moda é isso que ele vai ganhar, e acredite, vai usar.

Homens sempre deixam para comprar o presente na última hora, e pior, todos fazem isso. Então se já não fosse suficientemente ruim ter que comprar um presente, é preciso fazê-lo em uma loja lotada de amantes atrasados. E para piorar mais, como se escolhe um presente para uma mulher?

Utensílios domésticos estão descartados, relatos de homens desaparecidos depois de presentearem suas amadas com panelas e talheres desencorajam estas escolhas. Roupas ou sapatos seriam interessantes. Mas como escolher algo que elas gostem se sempre chegam em casa odiando o que acabaram de comprar e amavam na loja? Lingerie sensual seria bom para os dois, mas os poucos que tem coragem de comprar isso com uma vendedora que lembra a mãe deles se deparam com uma barreira intransponível. Qual o tamanho? A maioria não sabe o tamanho das próprias roupas íntimas.

Graças à Deus surgiu uma alma caridosa que pôs na cabeça delas que flores e chocolates são românticos. 

terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia mundial sem tabaco.



Três passos na rua e sou parado por uma criatura maltrapilha que fala comigo como se fossemos amigos de longa data. “E aí seu? Me arrega um careta.” Depois de ouvir a mesma coisa tantas vezes já sei que o “seu” sou eu e que o “careta” é o cigarro.

Minha vontade é mandar aquele sujeito ir trabalhar pra sustentar o vício, ou melhor, parar de fumar. Podia tentar dizer que não fumo, mas os dedos e os dentes amarelos, bem como o cheiro horrível e a respiração ofegante me denunciam. Para evitar o tempo perdido em uma discussão no meio da rua dou o cigarro e sigo andando.

Na outra esquina um obstáculo ainda mais difícil de ser superado se apresenta: Crianças em uma campanha antitabagismo. Tento desviar de uma, mas outra surge na minha frente “Tio, troca uma carteira de cigarro por uma rosa?”. Como se diz praqueles grandes olhos brilhantes e cheios de boa vontade que aquela rosa murcha custa um décimo do meu cigarro? Assim, continuo caminhando à procura de um bar para comprar outro cigarro, e de uma lixeira para a minha recém adquirida rosa murcha.

Quando o ministério da saúde vai aprender? Aquelas fotos nas carteiras de cigarro só servem para fumantes fazerem piada. Homens pedem nos bares o cigarro que causa aborto e devolvem aquele que causa impotência. Subir impostos faz os fumantes odiarem a administração pública e comprar cigarros contrabandeados.

Parei de fumar e explico o porquê. Eu advirto: Fumar chama gente chata.

Viva a segunda!




Festas infantis são feitas sempre aos domingos à tarde. Deve ser para que possamos usar aquela velha desculpa de que “amanhã é segunda, dia de São Pega”, e educadamente escapar daquela sessão de tortura.

A coisa já começa mal. Somos recebidos por um palhaço armado com uma buzina que é tocada sem parar e acompanhada por gritos de alegria. Mas esse palhaço está rindo de quê? Está usando uma roupa insuportavelmente quente e batom. Ganha pouco e apanha muito. Os chutes nas canelas são bênçãos quando pensamos na altura de uma criança de 5 ou 6 anos e no alcance do seu braço. Um soco de alguém desse tamanho com certeza vai acertar um lugar que vai doer muito.

Outro problema em festas infantis é que elas estão cheias de crianças. É preciso muito cuidado com estas pequenas criaturas. Apenas um momento de distração e você pode cometer seu maior erro, fazer contato visual com uma criança. Se ela perceber que você a está olhando, seu dia está condenado a um sem fim de “por quês?” e “tio, olha o que eu sei fazer”, ou “tio, olha o meu dente mole”, “tio, olha a casquinha da minha ferida”, esse tipo de assunto agradável.

Mas tudo tem seu lado bom. A quantidade de comida é uma maravilha. Menos o bolo, nunca coma bolo de aniversário! Pense na quantidade de minúsculas gotículas de saliva que o cobrem na hora de apagar as velinhas, ou quando todas aquelas pequenas bocas estão a poucos centímetros dele cantando alucinadamente “parabéns pra você”.

Coma torta fria, os pequenos ficam longe dela.

Papel de bobo



Poucas coisas conseguem colocar tanto medo em um homem quanto o fato de precisar ir ao mercado. As autoridades deveriam proteger o cidadão nesta hora em que ele tenta garantir sua sobrevivência comprando comida e outras coisas básicas.

A quantidade de opções na hora de se comprar papel higiênico, por exemplo, é uma tortura desumana. Fazer-nos ficar horas olhando logo para aquela prateleira. Se algum conhecido nos vê ali vai acabar descobrindo coisas íntimas, como o fato de irmos ao banheiro.

Na tentativa de escapar logo daquela situação vou eliminando alternativas. Os perfumados têm nomes como alegria da primavera ou explosão de frescor. Alegria, explosão e frescura são palavras que me causam certo desconforto quando relacionadas com o lugar do corpo aonde vou usar o papel, então fico com um sem perfume. Não sinto cheiro por lá mesmo.

Elimino aqueles que visivelmente vão me tirar a pele das partes e assim consigo ficar com apenas umas dez opções. Então o critério de desempate fica sendo o preço, escolho o mais barato.

Aí a coisa se complica. Existem rolos de 30, 60 e 90 metros, então pra saber qual o mais barato mesmo é preciso calcular o preço de cada metro. Então são 3 opções de metragem para cada uma das 10 opções finalistas, sendo assim é preciso fazer 30 cálculos para saber qual é realmente mais barato.

Depois de algumas horas no mercado pego o papel que está em promoção no meio do corredor e vou pra casa.

Heróis



Há momentos na vida de um homem em que ele é obrigado a enfrentar seus maiores medos. Fugir não é uma opção, e ele se vê agora na situação que por tanto tempo lhe trouxe pesadelos, se vê obrigado a atravessar o centro da cidade sozinho.

Assim que desembarca do ônibus lhe vem à mente a imagem do tio Teodomiro, pobre tio Teodomiro, não queria aceitar que os tempos são outros e que não é seguro sair sozinho. Foi visto pela última vez entrando em uma loja para preencher um cadastro de solicitação de cartão, deve estar lá até hoje respondendo perguntas ou aguardando a aprovação do crédito.

O importante agora é manter o foco no destino, continuar caminhando sem parar por nada. Qualquer distração pode acabar em uma desgraça, como participar de um sorteio na frente de uma loja de celulares e aderir a um plano com contrato de fidelidade até a sétima geração.

A palavra “grátis” tenta fazê-lo parar a todo momento. É preciso juntar todas as forças para resistir à tentação de responder algumas perguntas e ganhar um curso completamente livre de mensalidades. Só é preciso comprar o caríssimo material didático e indicar amigos e parentes que serão tirados do seu sossego por um vendedor que ligará num domingo de manhã oferecendo o maravilhoso curso básico de introdução aos primeiros passos em informática.

Com as mãos cheias de panfletos e com ouvidos doloridos depois de entrar no fogo cruzado de uma guerra de ofertas entre farmácias, finalmente ele chega ao banco. Ali ele pode relaxar por algumas horas na segurança de uma fila e reunir forças para a volta ao ônibus. Com lágrimas nos olhos ele sonha com o dia em que, talvez, o tio Teodomiro também encontre o caminho de casa.