Era mais um dia como qualquer
outro na vida de Sebastião. Sempre a mesma coisa, sempre a mesma rotina.
Como sempre, Sebastião acordava
antes da mulher e tentava tirá-la da cama “Vâmo mulher, hoje é teu dia de
prender os pinguins”, e como sempre ela o convencia a fazer isso no seu lugar só
pra poder ficar mais cinco minutos debaixo das cobertas. Ele atravessava a casa
arrastando os chinelos e ia alimentar os bichos com os peixes que ficaram
presos no quarto das crianças na última enchente.
As crianças eram outro desafio
diário na sua vida, principalmente o pequeno. Todo santo dia era preciso
revisar a mala da escola. Casaco, galocha, regata, chinelo, protetor solar pro
calorão do meio dia... E claro, o pequeno não tinha colocado na mala o
guarda-chuva. Quando esse guri vai aprender que pobre não pode sair sem
guarda-chuva? Sempre chove de manhã, ao meio dia ou no final da tarde, nas
horas que a peãozada tá na rua.
Lembrar-se da chuva o faz ter
vontade de afogar o patrão. No dia anterior lhe fez ficar vinte minutos a mais
no trabalho em uma reunião em que não se resolveu nada, só serviu pra fazer com
que ele perdesse o último barco da defesa civil e tivesse que nadar até em
casa.
Como não pode esperar até às 8
horas, quando o sol escaldante já teria derretido a neve da porta, Sebastião
pega sua pá e começa a abrir caminho até a rua. Se demorar mais vai pegar o
ônibus cheio e não terá lugar pra sentar, e não é nada fácil se equilibrar com
uma mala de roupas, um cobertor e uma boia.
Como sempre, Sebastião sai de
casa sonhando com o dia em que vai ganhar na mega sena. Aí sim, só vai sair de
casa depois das 9 pra aproveitar a praia e voltará na sua própria lancha.

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