terça-feira, 12 de junho de 2012

Heróis



Há momentos na vida de um homem em que ele é obrigado a enfrentar seus maiores medos. Fugir não é uma opção, e ele se vê agora na situação que por tanto tempo lhe trouxe pesadelos, se vê obrigado a atravessar o centro da cidade sozinho.

Assim que desembarca do ônibus lhe vem à mente a imagem do tio Teodomiro, pobre tio Teodomiro, não queria aceitar que os tempos são outros e que não é seguro sair sozinho. Foi visto pela última vez entrando em uma loja para preencher um cadastro de solicitação de cartão, deve estar lá até hoje respondendo perguntas ou aguardando a aprovação do crédito.

O importante agora é manter o foco no destino, continuar caminhando sem parar por nada. Qualquer distração pode acabar em uma desgraça, como participar de um sorteio na frente de uma loja de celulares e aderir a um plano com contrato de fidelidade até a sétima geração.

A palavra “grátis” tenta fazê-lo parar a todo momento. É preciso juntar todas as forças para resistir à tentação de responder algumas perguntas e ganhar um curso completamente livre de mensalidades. Só é preciso comprar o caríssimo material didático e indicar amigos e parentes que serão tirados do seu sossego por um vendedor que ligará num domingo de manhã oferecendo o maravilhoso curso básico de introdução aos primeiros passos em informática.

Com as mãos cheias de panfletos e com ouvidos doloridos depois de entrar no fogo cruzado de uma guerra de ofertas entre farmácias, finalmente ele chega ao banco. Ali ele pode relaxar por algumas horas na segurança de uma fila e reunir forças para a volta ao ônibus. Com lágrimas nos olhos ele sonha com o dia em que, talvez, o tio Teodomiro também encontre o caminho de casa.

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