quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dia das bruxas



Se tinha uma coisa que Weslei odiava era o tal do dia das bruxas. Todo mundo faceiro se vestindo de assombração sem ter ideia do quanto é dura a morte-vida de um zumbi de verdade em país de terceiro mundo.

Quando soube que a macumbeira da vila havia costurado seu nome na boca de um sapo ele já ficou se imaginando saindo do chão, igualzinho no clipe do Michael Jackson. Mas já na primeira noite que saiu pra comer deu com a cara no chão quando caiu da gaveta da sexta fileira do cemitério. Pra voltar foi outra batalha, alguém roubou a escada de alumínio que tinha lá, provavelmente pra vender pro cara que compra latinhas, tampas de bueiro e fios de cobre roubados.

Além da altura da gaveta ele tinha outro grande problema com o cemitério, ele ficava muito próximo do hospital. Por isso várias vezes ele foi recolhido pela Samu quando andava pela rua por ser confundido com uma vítima de acidente ou por acharem que ele havia sido assaltado. No hospital ele já foi medicado, suturado, operado e uma vez quase que o médico percebeu que ele estava morto.

Mas ser confundido com acidentado não era problema, o pior era ser confundido com mendigo. Várias vezes gangues de playboys haviam lhe ateado fogo. Numa dessas vezes seu amigo Vladimir, que era vampiro, veio em seu socorro e mordeu três deles. O coitado ficou tão drogado com aquele sangue que não conseguiu desviar dos fios de luz e morreu eletrocutado.

Agora, enquanto todos voltavam pra casa e guardavam suas fantasias de Halloween, Weslei escalava a escada de taquaras improvisada e voltava para sua gaveta. Depois de uma noite inteira a procura de cérebros para matar sua fome ele acabara atacando um baile funk lotado. Mais uma vez ele dormiria com fome. 

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