Sexta-feira, dia de pagamento e
chovendo, não podia existir um dia pior para alguém se enfiar num banco, mas
ele precisava aproveitar que sua indenização tinha saído justamente no último
dia pra pagar o imposto com desconto. Com isso ia sobrar mais pra obra da casa.
A fila já começava na calçada. Na
chuva ele esperava o vai e volta de pessoas para trás da linha amarela. “Você
está portando objetos de metal...” e lá ia o sujeito catar moedas, chaves,
fivelas e seja lá o que a porta tenha resolvido barrar. Mas era uma coisa que a
gente precisa se sujeitar em nome da segurança. Lembrava ainda do tempo em que
toda semana se via a notícia de uma agência invadida por assaltantes.
Finalmente na porta, se despede
do seu guarda-chuva. Deve deixá-lo junto com os outros do lado de fora para
pegar na saída. Sabia que não estaria ali quando voltasse e não aceitava a
possibilidade de pegar o de outra pessoa, assim entra na agência conformado com
a ideia de voltar molhado para casa.
Lá dentro mais uma fila para
retirar uma ficha. Com essa ficha se ganha um número para ser chamado sem
precisar ficar na fila. Senta ao lado de um aposentado com muita disposição
para conversa, e se vendo próximo do seu dinheiro também sente vontade de
conversar. Conta ao atento senhor toda sua história e como ela gerou uma boa
indenização. O idoso se desculpa por interromper e pede que ele guarde seu
lugar enquanto vai ao banheiro. No caminho o pobre velho é abordado por um
segurança com cara de assustado porque falava no telefone. Tudo bem que há
normas de segurança, mas aquilo é um desrespeito com uma pessoa daquela idade.
Ele pensa em chamar a atenção do guarda, mas seu número finalmente é chamado.
Depois de descontadas as taxas e
pago o imposto, agora ele tem em suas mãos o seu suado dinheiro. Valeu o
sacrifício de ter ido ao banco. Ele nem se importa com o guarda-chuva que se
foi, talvez até compre outro. Por uma quadra ele caminha como um vitorioso, até
que alguém lhe encosta uma arma nas costelas e anuncia o assalto.

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