segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sabe aqueles dias?


Sabe aqueles dias? Alceu acordou num daqueles dias. O despertador estava mais barulhento, o café estava fraco e o entregador tinha jogado o jornal dentro de uma poça d’água. O ônibus atrasou, por isso chegou tarde e foi repreendido pelo patrão. Um dia daqueles.

Alceu mastigava sua indignação enquanto cortava as peças. O supervisor desavisado não sabia que era um dia daqueles em que não se reclama das peças cortadas tortas. A indignação de Alceu fugiu de sua boca e pulou nos ouvidos do pobre homem. Bradava para todos ouvirem o quanto aquela ferramenta que tinha que usar era ruim e como isso atrapalhava seu trabalho e comprometia sua segurança.

Era daquele tipo que não tinha boca pra nada, quando resolveu falar foi uma surpresa para todos. Seus colegas murmuravam que suas ferramentas também eram ruins e que alguém deveria tomar uma providência. O supervisor sem saber o que fazer, mas achando válida a manifestação de Alceu, o encarregou de reunir uma comitiva para levar o problema ao gerente. Alceu atravessava os corredores sob os aplausos dos colegas, pena que era um dia daqueles.

O gerente ficou surpreso ao descobrir que a queda de produtividade era causada por uma simples ferramenta de baixa qualidade. Ficou também sinceramente preocupado com a segurança dos seus colegas. Não entendeu muito bem o que a comida ruim servida no refeitório tinha a ver com isso, mas ainda queria ouvir Alceu. Tentou explicar que a empresa só pagava o vale transporte, se o cobrador era mal educado não havia muito que ele pudesse fazer. Perguntou se Alceu estava reclamando do preço do pão porque queria um aumento, mas não foi ouvido. Por fim acabou perdendo a paciência e deu a reunião por encerrada, não podia parar a fábrica por causa de um resmungão. Nem lembrava qual era a reivindicação inicial da comitiva.

Foi um dia daqueles de perdas. Alceu perdeu o foco. A empresa perdeu a chance de ter produtos melhores. Colegas perderam dedos com suas ferramentas ruins. Foi um dia daqueles, em que se não tiver atenção, se perde uma chance única de fazer algo realmente grande.

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