quarta-feira, 17 de julho de 2013

Problema não existe



Problema definitivamente é uma coisa que não existe, pelo menos não assim no singular. Quando se fala de um único problema a gente deveria falar dele como “um dos meus problemas”, já que eles vêm sempre acompanhados.

O assoalho da casa de Jurandir mais cedo ou mais tarde ia causar uma tragédia, estava completamente podre. Resolveu tomar uma providência antes que o pior acontecesse. Comprou tábuas, pregos e guardou algum dinheiro para pagar o carpinteiro. Mas se tem uma coisa que os problemas não podem ver é dinheiro de pobre guardado. No mesmo dia em que o material chegou o assoalho, ofendido por se ver trocado por umas tábuas novas, resolveu se abrir. De birra levou pro buraco a geladeira e a mulher do Jurandir.

Táxi de volta do hospital, aluguel de muleta, táxi pra trocar o gesso da perna quebrada, anti-inflamatório, antitérmico, antitetânica, mais um monte de remédios e o conserto da geladeira e lá se foi o dinheiro do carpinteiro. Mas o buraco continuava lá e o inverno estava chegando. Só quem gostou disso foi o cachorro, agora podia dormir dentro de casa. Era só rasgar a lona do buraco e entrar.

Mas, diferente de dinheiro, gente bem intencionada não falta nesse mundo. Os amigos e vizinhos fizeram um mutirão pra recuperar a casa. No domingo bem cedo estava todo mundo lá, o cachorro sentiu que a coisa se complicava pra ele e tentou impedir que os antiburaquistas invadissem seu espaço recém conquistado, mas acabou preso e amarrado nos fundos da casa.

No fim do dia o trabalho estava feito. Poucos móveis foram riscados e quase nenhuma louça quebrada. A camisa usada para estancar o sangue do amigo que cortou o dedo nem faria tanta falta, ela já estava quase paga mesmo. As tábuas de cor diferente que foram dadas pelo vizinho foram usadas no quarto, o degrau que ficou até seria útil pra ele aprender a não arrastar os chinelos, coisa que a mulher reclamava muito. O vizinho foi muito bom ao não cobrar pelas tábuas, afinal não era culpa dele se o filho cortou errado e inutilizou as de Jurandir. O almoço daquele dia e o churrasco de agradecimento saíram bem mais caro do que a mão de obra do carpinteiro, mas o dono do mercado que era um dos voluntários vendeu tudo fiado.


Não existem problemas que não se pode resolver, ou piorar, com gente bem intencionada.

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