quarta-feira, 20 de junho de 2012

O nosso inverno

 

vira-lata

Chegou o inverno, a estação mais gaúcha do ano. No Brasil o verão que é comemorado, mas aqui como não tem praia e nem carnaval que preste, o que mais valoriza nossas paisagens e nosso jeito de ser é o inverno.

Não existe imagem mais fantástica do que um campo coberto pela geada de manhã bem cedo. Os turistas amam e fotografam cada gota de sereno congelada. Quem mora aqui e precisa encarar o conhecido “frio de renguear cusco” pra ir trabalhar não acha assim tão lindo, mas só de saber que os outros têm inveja já faz valer à pena o sacrifício.

Mas uma boa xícara de chocolate quente aquece o corpo. De quem está numa pousada luxuosa na serra, é claro, a gente se vira mesmo com o café requentado que passou na noite anterior pra poder ficar mais tempo na cama.

Um bom banho quente também resolve. Menos pra gente que tem em casa uma duchinha que só funciona em duas temperaturas, pelar porco ou morrer congelado, mas a gente se esquenta. Às vezes um pingo de água gelada cai do forro de PVC suado e acerta a gente nas costas, congela o corpo todo de novo, mas se a gente foge rápido do banheiro isso quase nunca acontece.

Mas nada melhor do que “fundi” na frente da lareira. Deve ser, aparece em todos os comerciais. Mas pinhão no fogão à lenha também é bom. As pilhas de madeira viram criadores de aranhas e ratos, a casa fica preta de fuligem, mas tem todo o resto do ano pra limpar isso.

Tá, inverno de pobre é uma droga.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Bom gente, há um tempo estava numa conversa animada com o Deivid Poncio, um amigo da faculdade, e ele me falou do projeto de criar um novo jornal na cidade. Pensei comigo, mais um jornal? Pra quê? Quem vai ser louco de escrever pra um jornal que vai disputar mercado com um dos maiores grupos editoriais do estado?

O Deivid já tinha pelo menos um louco em vista, eu. Como ele insistiu muito... nem tanto na verdade... bom, pra falar a verdade mesmo ele só comentou a ideia e eu topei, mas enfim, virei colunista do Jornal Zona Oeste de Novo Hamburgo. No mínimo a gente vai ser uma pedra no sapato daquele outro jornalzão e vamos fazer eles investirem mais na qualidade pra não perderem leitores.

Como o jornal é distribuído só na zona oeste da cidade (impressionante como o nome começa a fazer sentido agora não é?), muitos amigos de outros lugares acabam não podendo ler minhas crônicas. Não que isso seja um grande problema para eles, mas vários deles me pediram para publicar o material em um blog também. Na verdade foram só alguns... Um pra ser sincero... Tá, nem foi um pedido, foi só uma sugestão.

Enfim, criar blog é de graça e todo mundo pode fazer, então esse é o meu. Aqui vou postar as crônicas já publicadas no jornal e mais alguma coisa que dê na veneta de escrever. Espero que gostem, que comentem, que curtam, que critiquem, que praguejem, o negócio é participar pra gente construir alguma coisa.

Um abraço.

Gelson A.Cardoso
Estudante de Publicidade e Propaganda
Dj
Colunista
e agora Blogueiro.

Feliz dia dos namorados



Poucos sabem, mas o dia dos namorados foi criado por um solteirão com um plano maligno de destruir todos os relacionamentos felizes.

Para as mulheres a situação não é tão trágica, para elas comprar é um prazer, diferente dos homens que acham isso um martírio. Além disso, elas escolhem presentes para si mesmas. Sempre dão roupas que querem que eles usem quando estiverem com elas, pouco importa se o namorado odeie estampas florais, se for a moda é isso que ele vai ganhar, e acredite, vai usar.

Homens sempre deixam para comprar o presente na última hora, e pior, todos fazem isso. Então se já não fosse suficientemente ruim ter que comprar um presente, é preciso fazê-lo em uma loja lotada de amantes atrasados. E para piorar mais, como se escolhe um presente para uma mulher?

Utensílios domésticos estão descartados, relatos de homens desaparecidos depois de presentearem suas amadas com panelas e talheres desencorajam estas escolhas. Roupas ou sapatos seriam interessantes. Mas como escolher algo que elas gostem se sempre chegam em casa odiando o que acabaram de comprar e amavam na loja? Lingerie sensual seria bom para os dois, mas os poucos que tem coragem de comprar isso com uma vendedora que lembra a mãe deles se deparam com uma barreira intransponível. Qual o tamanho? A maioria não sabe o tamanho das próprias roupas íntimas.

Graças à Deus surgiu uma alma caridosa que pôs na cabeça delas que flores e chocolates são românticos. 

terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia mundial sem tabaco.



Três passos na rua e sou parado por uma criatura maltrapilha que fala comigo como se fossemos amigos de longa data. “E aí seu? Me arrega um careta.” Depois de ouvir a mesma coisa tantas vezes já sei que o “seu” sou eu e que o “careta” é o cigarro.

Minha vontade é mandar aquele sujeito ir trabalhar pra sustentar o vício, ou melhor, parar de fumar. Podia tentar dizer que não fumo, mas os dedos e os dentes amarelos, bem como o cheiro horrível e a respiração ofegante me denunciam. Para evitar o tempo perdido em uma discussão no meio da rua dou o cigarro e sigo andando.

Na outra esquina um obstáculo ainda mais difícil de ser superado se apresenta: Crianças em uma campanha antitabagismo. Tento desviar de uma, mas outra surge na minha frente “Tio, troca uma carteira de cigarro por uma rosa?”. Como se diz praqueles grandes olhos brilhantes e cheios de boa vontade que aquela rosa murcha custa um décimo do meu cigarro? Assim, continuo caminhando à procura de um bar para comprar outro cigarro, e de uma lixeira para a minha recém adquirida rosa murcha.

Quando o ministério da saúde vai aprender? Aquelas fotos nas carteiras de cigarro só servem para fumantes fazerem piada. Homens pedem nos bares o cigarro que causa aborto e devolvem aquele que causa impotência. Subir impostos faz os fumantes odiarem a administração pública e comprar cigarros contrabandeados.

Parei de fumar e explico o porquê. Eu advirto: Fumar chama gente chata.

Viva a segunda!




Festas infantis são feitas sempre aos domingos à tarde. Deve ser para que possamos usar aquela velha desculpa de que “amanhã é segunda, dia de São Pega”, e educadamente escapar daquela sessão de tortura.

A coisa já começa mal. Somos recebidos por um palhaço armado com uma buzina que é tocada sem parar e acompanhada por gritos de alegria. Mas esse palhaço está rindo de quê? Está usando uma roupa insuportavelmente quente e batom. Ganha pouco e apanha muito. Os chutes nas canelas são bênçãos quando pensamos na altura de uma criança de 5 ou 6 anos e no alcance do seu braço. Um soco de alguém desse tamanho com certeza vai acertar um lugar que vai doer muito.

Outro problema em festas infantis é que elas estão cheias de crianças. É preciso muito cuidado com estas pequenas criaturas. Apenas um momento de distração e você pode cometer seu maior erro, fazer contato visual com uma criança. Se ela perceber que você a está olhando, seu dia está condenado a um sem fim de “por quês?” e “tio, olha o que eu sei fazer”, ou “tio, olha o meu dente mole”, “tio, olha a casquinha da minha ferida”, esse tipo de assunto agradável.

Mas tudo tem seu lado bom. A quantidade de comida é uma maravilha. Menos o bolo, nunca coma bolo de aniversário! Pense na quantidade de minúsculas gotículas de saliva que o cobrem na hora de apagar as velinhas, ou quando todas aquelas pequenas bocas estão a poucos centímetros dele cantando alucinadamente “parabéns pra você”.

Coma torta fria, os pequenos ficam longe dela.

Papel de bobo



Poucas coisas conseguem colocar tanto medo em um homem quanto o fato de precisar ir ao mercado. As autoridades deveriam proteger o cidadão nesta hora em que ele tenta garantir sua sobrevivência comprando comida e outras coisas básicas.

A quantidade de opções na hora de se comprar papel higiênico, por exemplo, é uma tortura desumana. Fazer-nos ficar horas olhando logo para aquela prateleira. Se algum conhecido nos vê ali vai acabar descobrindo coisas íntimas, como o fato de irmos ao banheiro.

Na tentativa de escapar logo daquela situação vou eliminando alternativas. Os perfumados têm nomes como alegria da primavera ou explosão de frescor. Alegria, explosão e frescura são palavras que me causam certo desconforto quando relacionadas com o lugar do corpo aonde vou usar o papel, então fico com um sem perfume. Não sinto cheiro por lá mesmo.

Elimino aqueles que visivelmente vão me tirar a pele das partes e assim consigo ficar com apenas umas dez opções. Então o critério de desempate fica sendo o preço, escolho o mais barato.

Aí a coisa se complica. Existem rolos de 30, 60 e 90 metros, então pra saber qual o mais barato mesmo é preciso calcular o preço de cada metro. Então são 3 opções de metragem para cada uma das 10 opções finalistas, sendo assim é preciso fazer 30 cálculos para saber qual é realmente mais barato.

Depois de algumas horas no mercado pego o papel que está em promoção no meio do corredor e vou pra casa.

Heróis



Há momentos na vida de um homem em que ele é obrigado a enfrentar seus maiores medos. Fugir não é uma opção, e ele se vê agora na situação que por tanto tempo lhe trouxe pesadelos, se vê obrigado a atravessar o centro da cidade sozinho.

Assim que desembarca do ônibus lhe vem à mente a imagem do tio Teodomiro, pobre tio Teodomiro, não queria aceitar que os tempos são outros e que não é seguro sair sozinho. Foi visto pela última vez entrando em uma loja para preencher um cadastro de solicitação de cartão, deve estar lá até hoje respondendo perguntas ou aguardando a aprovação do crédito.

O importante agora é manter o foco no destino, continuar caminhando sem parar por nada. Qualquer distração pode acabar em uma desgraça, como participar de um sorteio na frente de uma loja de celulares e aderir a um plano com contrato de fidelidade até a sétima geração.

A palavra “grátis” tenta fazê-lo parar a todo momento. É preciso juntar todas as forças para resistir à tentação de responder algumas perguntas e ganhar um curso completamente livre de mensalidades. Só é preciso comprar o caríssimo material didático e indicar amigos e parentes que serão tirados do seu sossego por um vendedor que ligará num domingo de manhã oferecendo o maravilhoso curso básico de introdução aos primeiros passos em informática.

Com as mãos cheias de panfletos e com ouvidos doloridos depois de entrar no fogo cruzado de uma guerra de ofertas entre farmácias, finalmente ele chega ao banco. Ali ele pode relaxar por algumas horas na segurança de uma fila e reunir forças para a volta ao ônibus. Com lágrimas nos olhos ele sonha com o dia em que, talvez, o tio Teodomiro também encontre o caminho de casa.