Ano novo, vida nova. Tão
tradicional quanto as festas de final de ano é a famosa lista de objetivos de
Marialva. Lista que ela elabora depois da tradicional ressaca do dia primeiro e
da também tradicional hospitalização por intoxicação alimentar causada por
comer as sobras das festas.
Não precisa pensar muito para que
o primeiro item apareça. Perder peso. Marialva sabe que não está tão acima do normal,
mas como ela não pode colocar em sua lista que a vizinha engorde terá que
resolver por si mesma. A caneta para sobre o papel e sua boca se retorce de
descontentamento. A ideia de perder, mesmo que seja peso, não lhe agrada. Ela
risca o primeiro e único item e reescreve ganhar forma.
Pensa melhor e se dá conta de que
o verão logo acaba e o tempo para desfilar suas recém adquiridas formas será
bem curto. Talvez mais curto que o short da vizinha. Talvez não tão curto, mas
nada que valha a privação de todas as delícias calóricas que só dias muito
quentes nos proporcionam. O negócio é se organizar, agendar o tal regime para
no próximo verão estar em forma. Assim, a rabiscada e curta lista ganha um
complemento, ganhar forma a partir de setembro.
Essa programação com tanta
antecedência faz Marialva se sentir uma pessoa mais organizada e responsável,
contudo não resolve o problema do banho de sol nos fundos de casa no próximo
final de semana. Se pelo menos tivesse um muro, mas aquela cerca de arame galvanizado
barata a fazia deitar quase ao lado da vizinha piriguete com aquela irritante
cor de galinha assada de capa de livro de receitas.
A lista de objetivos precisa de
um pouco mais de objetividade. Ela é rabiscada novamente, agora com um pouco
mais de força. Apertando os lábios e franzindo as sobrancelhas Marialva escreve: construir um muro, comprar uma canga e acender uma vela para que a vizinha
tenha estrias enormes.
Fim da lista.

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