Se tinha uma coisa que Weslei
odiava era o tal do dia das bruxas. Todo mundo faceiro se vestindo de
assombração sem ter ideia do quanto é dura a morte-vida de um zumbi de verdade
em país de terceiro mundo.
Quando soube que a macumbeira da vila
havia costurado seu nome na boca de um sapo ele já ficou se imaginando saindo
do chão, igualzinho no clipe do Michael Jackson. Mas já na primeira noite que
saiu pra comer deu com a cara no chão quando caiu da gaveta da sexta fileira do
cemitério. Pra voltar foi outra batalha, alguém roubou a escada de alumínio que
tinha lá, provavelmente pra vender pro cara que compra latinhas, tampas de
bueiro e fios de cobre roubados.
Além da altura da gaveta ele
tinha outro grande problema com o cemitério, ele ficava muito próximo do
hospital. Por isso várias vezes ele foi recolhido pela Samu quando andava pela
rua por ser confundido com uma vítima de acidente ou por acharem que ele havia
sido assaltado. No hospital ele já foi medicado, suturado, operado e uma vez quase
que o médico percebeu que ele estava morto.
Mas ser confundido com acidentado
não era problema, o pior era ser confundido com mendigo. Várias vezes gangues
de playboys haviam lhe ateado fogo. Numa dessas vezes seu amigo Vladimir, que
era vampiro, veio em seu socorro e mordeu três deles. O coitado ficou tão
drogado com aquele sangue que não conseguiu desviar dos fios de luz e morreu
eletrocutado.
Agora, enquanto todos voltavam
pra casa e guardavam suas fantasias de Halloween, Weslei escalava a escada de taquaras
improvisada e voltava para sua gaveta. Depois de uma noite inteira a procura de
cérebros para matar sua fome ele acabara atacando um baile funk lotado. Mais
uma vez ele dormiria com fome.

