Elisaldo ficou horrorizado quando
recebeu a notícia da renúncia do Papa Bento XVI. A palavra renúncia por si só
já o apavorava e fazia tudo parecer ainda mais trágico. Ficou até um pouco
decepcionado quando descobriu que isso era só um pedido de demissão. Mas se
usaram uma palavra tão feia a coisa devia ser séria.
Ficou realmente assustado quando
tentou imaginar o mundo sem um Papa. O motivo do susto era não lembrar o que o
Papa fazia. Se todo mundo achava ele tão importante e Elisaldo não sabia o
porquê, isso fazia dele um tanto desinformado, e isso não é uma coisa que
alguém goste de admitir. Então fez o que sabia que devia ser feito, concordou
com o que a maioria pensa e imaginou um cenário trágico para o mundo despapado.
Não podia ficar apenas observando a
queda da nossa civilização sem tomar uma atitude, decidiu assumir ele mesmo o
cargo até que a igreja se reorganizasse. E seu primeiro grande desafio como
pontífice era descobrir qual sua função.
A primeira coisa que lhe veio à
mente foi que ele deveria comandar toda a igreja e seus fiéis espalhados pelo
mundo. Mas aí lembrou de que o Papa não faz as leis da igreja, elas foram
escritas há muito tempo por alguém que se assegurou de criá-las de maneira que
qualquer um que tentasse mudá-las fosse enviado direto pro inferno. Decidiu
deixar a igreja como estava por enquanto, o novo eleito que se arriscasse a
queimar no fogo eterno. Até lá Elisaldo manteria a ordem combatendo o pecado do
mundo. Pensou nas aulas de geografia e lembrou que o mundo é um lugar bem
grande, deve ter um bom bocado de pecados pra combater.
Era coisa demais pra um homem só,
mesmo sendo um Papa. Por fim, decidiu ele também renunciar. Seria muito mais
fácil se cada um combatesse seus próprios pecados e de alma limpa procurasse
uma igreja para fazer parte de algo maior. Maior do que uma igreja que precisa
ficar ditando regras pras pessoas se afastarem de coisas que lhes fazem mal e
sobrecarregando velhinhos com a responsabilidade pelos nossos erros.
